Retrato da Maria Chocolate

Nome: Maria do Carmo da Silva Miranda (Maria Chocolate)

Negócio: Centro Comunitário Chocobim e Biblioteca Comunitária MANNS – Mulheres Amorosas Necessitadas de Navegar nos Sonhos

Área do Negócio: Negócio Social

Bairro: Parque João Pessoa – Saracuruna (Baixada Fluminense)

Contato: 21 97627-5291 #bibliotecamanns (Instagram)

@Centro Cultural Comunitário Chocobim Biblioteca MANNS (Facebook)

 

Era uma vez uma menina que sonhava com um livro que fosse só dela ela pudesse abrir, ler e sonhar com as histórias. Aos 60 anos, essa jovem ainda trabalha para que muitas crianças conheçam os livros e possam ler e sonhar.

Natural de Bom Jesus do Galho, MG, e irmã mais velha de 8 irmãos, Maria do Carmo da Silva Miranda nasceu lá pelo ano de 1960. Veio para a Baixada Fluminense ainda pequena e cresceu na comunidade que hoje é o Parque João Pessoa, em Saracuruna. Recebeu o apelido de Maria Chocolate das catequistas que orientavam um grupo de 4 Marias, e gostou muito, embora nunca tivesse comido um chocolate.

Trabalhou como doméstica, estudou à noite e, realizando o sonho de sua mãe, concluiu o Normal. Como professora, queira “dar às crianças oportunidades que não tive”. Como educadora popular, atuou no Mobral na década de 70 revelando-se uma liderança na luta pela educação e inclusão social. Nos anos 90, começou a frequentar espaços onde se discutia cultura e assistência a populações vulneráveis e, com a criação do Programa Ação da Cidadania (Fome Zero), começou a fornecer alimentos, conseguiu livros, e começou a participar de iniciativas de promoção do lazer e da cultura no bairro.

O lazer em Saracuruna era restrito ao futebol. A família de Chocolate era ligada ao time Mancha Verde e Celso, seu marido foi até presidente do clube. Chocolate ia para a beira do campo com um tapete, que arrumava como um cantinho de leitura, e dizia: “futebol e leitura têm que caminhar sempre juntos”. Anos mais tarde, nasceu o bloco Embalo de Saracuruna, cujos compositores e integrantes da bateria são jovens leitores, “e foi assim que futebol mais leitura deu samba”.

Em 2006, Chocolate começou a ler em sua varanda com as crianças da vizinhança, e assim nasceu a Varanda Literária, que em 2007 deu lugar à Lona Literária, aproveitando uma lona que Celso instalou no quintal para a realização de um churrasco. Em 2012, através do edital Prazer em Ler, do Instituto C&A, Chocolate conseguiu recursos para a construção de uma sala de leitura, e, em 2014, com a sala pronta, foram criados a Biblioteca MANNS e o Centro Comunitário Chocobim, concebido como uma instituição voltada para o desenvolvimento local.

O nome MANNS foi formado a partir dos nomes de 5 mulheres que influenciaram Chocolate, mas hoje tem um significado especial: Mulheres Amorosas Necessitadas de Navegar em Sonhos. Com a ajuda de voluntárias, ela atende direta ou indiretamente mais de 300 crianças, especialmente aquelas com necessidades especiais. Além disso, coordena rodas de conversa com as famílias, orientando na educação dos deficientes e ensinando Cidadania.

O ano de 2020 foi dificílimo para todos nós e, mais ainda para Chocolate, que perdeu Celso, seu namorido de 30 anos, para o Covid-19. Mas, nesse ano, ela foi convidada a fazer parte do quadro “Quando você menos espera” do Caldeirão do Huck. Além de conhecer o apresentador, que ela já admirava muito, ganhou recursos para a reforma da biblioteca, além de muitos livros e produtos para distribuir para a Comunidade. Recebeu também recursos da lei Aldir Blanc, que resultaram no atual prédio de 3 andares, de paredes lilases e com mais de 4 mil títulos selecionados.

Com mais de 25 anos de trabalho na área da cultura, Chocolate atuou, junto com outras lideranças, no Centro de Defesa da Vida (CDVIDA), na catedral de Duque de Caxias e em muitos outros grupos. Nessa caminhada, conheceu Dayse Valença e a Asplande e, juntas, participaram de vários movimentos, como a Conferência Rio+20, em 2012.

Atualmente, Chocolate atua junto à Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, ocupando a cadeira do Livro e Literatura, e junto ao Conselho Municipal de Cultura de Duque de Caxias, tendo ocupado por 4 anos a cadeira de Literatura, Biblioteca e Salas de Leitura, e está hoje no Conselho Municipal de Defesa dos Direitos do Negro e Promoções da Igualdade Racial e Étnica (COMDEDINEPIR).

Chocolate é dinamizadora de grupos, educadora social e mediadora de leitura. Mas, ela chama a atenção para o fato de que tudo o que ela construiu foi de mãos dadas com sua comunidade e sua base na igreja católica, “ninguém faz nada sozinho”.

 

Escrito por Adelina Araújo, voluntária da Asplande.