Empreendedorismo colaborativo: florescer, mas nunca sozinho
Empreender é um ramo que requer habilidade e aprendizado, paciência e fé para lidar com os imprevistos e desafios. Entretanto, quando se junta empresas, vidas e ideias, essa jornada tende a ficar um pouco mais fácil e, até mesmo, divertida! Esses são os maiores aspectos do chamado “empreendedorismo colaborativo”, um modo de mercado que empreende através de parcerias, juntando empresas para criarem projetos inovadores juntos. Essa forma de atuar no ramo dos negócios se tornou uma pauta para grandes vantagens no mundo comercial. Inclusive, uma das matérias no “Portal Sebrae”, se intitula como: “Economia colaborativa é oportunidade para os pequenos negócios” e trata justamente de apontar as melhorias que empresas e empreendedores adquirem quando começam a colaborar e compartilharem ideias.
Além de proporcionar a produção de um trabalho novo e incrível, o empreendedorismo colaborativo permite que as partes cresçam juntas, trocando experiências e histórias que agregam para o projeto e fortalecem todo o trajeto do empreendimento. As vantagens são grandiosas e contam com pontos como:
– Inovação e criatividade;
– Negócio mais sustentável economicamente;
– Aumenta a visibilidade de vendas dos membros;
– Atribui mais valor para as marcas envolvidas.
Para Elizabeth Lima e Dayse de Oliveira, colaborar entre si foi um sucesso e lhe despertaram novos significados em suas respectivas vidas. Além de se identificarem no ramo artesanal, elas também se identificaram em seus valores e vontades de empreendimento.
O projeto “Coleção Relevos”, criado por essas duas empreendedoras contou com uma variedade de acessórios artesanais, cada um deles carregando mensagens de consciência de consumo e sustentabilidade em cada cor e tecido usado. O catálogo é rico em praticante tudo! Conta com colares, brincos, pulseiras e conjuntos que foram pensados especialmente para serem combinados – todos sendo produzidos com materiais que são descartados em massa no mundo da moda e ainda possuem potencial para nascerem e alegrarem novas peças.
Esse vínculo que ambas possuem com a moda consciente, já era uma virtude de seus próprios empreendimentos individuais. Dayse é a criadora do “Freda Acessórios”, uma marca que produz joias têxteis com os tecidos que geralmente são descartados na cadeia produtiva da moda, tendo foco na sustentabilidade desses recursos. “A moda joga no lixo mais de 170 mil toneladas de resíduo têxtil e gasta muita água na produção de roupas. Meu propósito é fazer bijus com esses tecidos e retorná-los para o mercado, com beleza e alegria para os looks das pessoas, clientes.”, diz ela, mencionando a grande importância que seu artesanato gera em sua vida. E no empreendimento de Beth, designer e cofundadora da “Bell Lima”, suas peças autorais são baseadas na reutilização de cápsulas de café que não possuem o descarte correto nas casas e fábricas.
Além de estarem conectadas pela consciência ambiental, ambas também nutrem um amor forte e genuíno pela arte. Seus propósitos de empreendimento são ligados em ambas as extremidades e esse é um ponto forte do sucesso como colaboradoras. O coração de ambas bate em puro entusiasmo quando o assunto é criatividade, especialmente porque o artesanato possui significado em suas jornadas.
Dayse conta que o artesanato é sua vida, seu norte e seu maior prazer, e junto a isso, sua visão de planeta sustentável também nunca a abandonou. Quando começou um trabalho voluntário para ensinar o processo de criação de bijuterias, a ideia de ensinar tal processo a partir de materiais sustentáveis a iluminou por dentro. “Pensei e criei uma coleção a partir dos tecidos que temos em casa, a fim de que elas tivessem possibilidade de desenvolver a criatividade sem ter que comprar materiais novos.”. Ela também compartilha que o visual de suas peças é muito importante para ela e que a alegria e sustentabilidade devem estar visíveis, sempre. Além disso, Dayse conta que recolhe todos os recursos para suas peças de forma simples: estocando restos de tecidos de suas próprias roupas, de roupas de outras pessoas, de alguns brechós e de confecções. Apesar do processo ser lento e ela sempre prezar pela higienização em cada etapa, tudo é feito com muito entusiasmo e alegria.
Já Beth, tem uma história ainda mais íntima com o artesanato, significando para ela um novo recomeço, um encontro de paz e de possibilidades. Após ter a triste notícia de que estava com câncer de mama, Beth começou a empreender seus artesanatos, que, segundo ela, “era uma forma de retribuição a chance que tinha recebido de estar viva”. Após sua fase de conexão com a arte manual, Beth também encontrou em seu empreendimento uma chance de colaborar para o bem-estar do planeta. Ela compartilha que sua preocupação com o alto consumo e o descarte irregular de resíduos a tocou profundamente, especialmente por pensar no futuro das próximas gerações, como de seus filhos e netos. “Para mim empreender através da arte foi restaurador, me ajudou a focar no futuro e a ter um objetivo claro sobre como fazer alguma diferença em relação ao planeta.” E foi aí que as cápsulas de café ampliaram os horizontes de Beth, permitindo que sua criatividade explorasse novos meios de produzir sua arte. “Através de uma pesquisa sobre técnicas e materiais, cheguei ao mundo das cápsulas de café e seu descarte incorreto. A partir daí eu comecei a fazer campanhas para recebimento dos resíduos para a produção de peças autorais, feitas manualmente e com exclusividade. No meu caso, as cápsulas, a borra e o lacre são limpos, higienizados, e depois podem ser torcidos, recortados e alguns levam acabamento em resina. As peças são produzidas uma a uma, não há produção em série. E todo o resíduo gerado durante a produção é reaproveitado para outras peças.”
Juntando suas forças e seus propósitos, a colaboração de Beth e Dayse trouxe novidades para ambas e logo a “Coleção Relevos” já estava sendo criada com muito amor e dedicação. “Vimos que podíamos aliar e alinhar nossos propósitos e produzir uma coleção que levasse a mensagem de uma moda consciente, autoral. Que fizesse as pessoas pensarem nesta enorme geração de resíduos e do seu descarte. As nossas empresas são ligadas pelo mesmo propósito, levar a reflexão sobre consumo e geração de resíduos.”, expressa Beth. “O Artesanato é um negócio mais humano, de pessoa para pessoa. Para mim, foi um grande diferencial. Não só pelas peças, mas também por ter sido uma experiência possível e que deu certo. É a esperança de crescer com a collab.”, diz Dayse.
O “Coleção Relevos” é o tipo de trabalho colaborativo que emana harmonia e confiança, profissionalismo e reciprocidade. E ainda maior que o ganho profissional, Beth e Dayse confirmam que a colaboração que fizeram lhe adicionaram muitos aprendizados e a troca de vida e de arte, tocou também suas almas. Para elas, todo o êxito no projeto possui um segredo muito simples: manter o coração e a mente abertos, saber respeitar e compartilhar suas ideias com quem está disposto a ouvir. “Bem, eu acho que o segredo é estar aberto, ter a certeza de que as partes estão ali para somar e criar a partir das suas ideias. Para mim, parceria significa o ingrediente a mais numa receita que você já faz com todo amor”, expressa Beth. “Primeiro, humildade. Segundo estar com propósitos alinhados. Qualidade das peças. Organização. Caráter.”, relata Dayse.
Colaborar é, portanto, crescer! É participar de um coletivo harmonioso, como um jardim florido de primavera. É estar junto nas estações, saber se acolher durante o inverno e aproveitar o sol do verão. Trabalhar em parceria é encontrar um propósito em comum, construir uma ponte de conhecimentos, carregar em cada tijolinho as experiências e as histórias que permeiam cada um dos integrantes. É estar aberto para conhecer e ensinar, para criar e unir criatividade. Demanda respeito, em todos os aspectos: pela vida, pela sua criação, pela sua empresa. “Eu tenho um slogan aqui no ateliê. ‘O futuro é coletivo!’ Eu acho que a troca, enriquece e transforma os envolvidos.”, relata Beth. “Desejo que essa experiência colaborativa cresça e influencie outras e com muito sucesso. Agradeço à Bell que foi generosa e aceitou meu convite. E me acrescentou muito, aprendi com essa experiência!”, diz Dayse. E como finalização da conversa, ambas quiseram deixar registrado seus maiores objetivos e desejos, os mesmos que a aproximaram e construíram lindamente a mensagem do projeto que criaram. “Que as pessoas continuem a resistir. Existe um movimento ainda não muito bem divulgado de pessoas e ações que preservam o planeta, a humanidade, e que estão conseguindo ótimos resultados!”, diz Beth. “E que as pessoas reflitam que podemos sim consumir consciente, com a beleza artesanal, e contribuir para o oxigênio do planeta.”, complementa Dayse.
Contato das empreendedoras:
Escrito por Moara Guimarães Flausino, estudante de Letras na Unip e voluntária da Asplande