Favelas do Rio de Janeiro e as Cités de Paris: Dois mundos tão longe mas tão parecidos

Na França não existem Favelas como no Rio, mas existe um tipo comunidade com algumas características parecidas, as chamadas Cités.

Diferenças entre as Favelas e as Cités

A construção das Favelas e das Cités tiveram impulso no século 20, porém com origens bem diferentes. As Favelas foram construídas pelos próprios moradores sem apoio do Estado, formadas pela população mais pobre da cidade. Em 1897 soldados regressos da guerra de Canudos ficaram abrigados no Ministério do Exército no Rio de Janeiro, próximo a Central do Brasil, ocupando posteriormente o Morro da Providência onde construiram suas moradias e apelidaram como Morro da Favela, em referência a planta tradicional do sertão da Bahia. As Cités francesas são conjuntos habitacionais construídos pelo Estado depois da segunda guerra mundial, através de uma política de alojamento depois de um baby-boom (aumento na população pelo grande número de recém nascidos) e também nos anos 60 a favor das população mais pobre depois de uma crise habitacional.

Geograficamente as Favelas se situam em vários locais da cidade, somando hoje cerca de 800, sendo a maioria nos morros, já as Cités em Paris se situam na periferia. Em relação a arquitetura as Cités são formadas por prédios altos, hoje antigos, em maioria deteriorados, mas com tetos sólidos, construídos pelo Estado com recursos e material seguros. As Favelas se descrevem como locais com muitas casas pequenas, a maioria construídas a mãos pelos próprios moradores e suas famílias, sem reboco, em condições precárias com relação ao acesso a esgoto, água e eletricidade.

Os jovens das favelas acham que a educação é injusta, faltosa e sobretudo arcaica, sem a modernidade necessária para educar uma geração que cresceu em um mundo onde internet é predominante. Em Paris as escolas localizadas perto das Cités tem uma propensão ao clima de turbulência, com classes barulhentas, cursos dados por professores jovens começando sua carreira. Os jovens das Cités acreditam que é uma falta por parte do sistema educativo a inserção de professores jovens sem experiência nessas escolas, justamente quando esse público é o que precisa de maior atenção e acompanhamento. Para os jovens mais pobres das favelas estudar é um privilégio. Já em Paris entrar na universidade é muito mais fácil. Na França não temos provas para cursar as universidades públicas, são aceitos todos que já passaram pelo ensino médio. O Estado francês atua muito mais a favor dos jovens das Cités do que o governo brasileiro para os jovens das Favelas. Por exemplo, em Paris existem as “Maisons de Quartier” (Casas de Bairro) e “Missions Locales” (Missões locais) que permitem aos jovens se desenvolver profissionalmente, ajudando a encontrar um trabalho, desenvolver um negócio, e deixando também a cultura mais acessível pra eles. Já no Brasil encontramos muitas iniciativas privadas se desenvolvendo nas Favelas, através de associações e ONGs, como a organização de pré-vestibulares.

Semelhanças entre Favelas e Cités

As Cités como as Favelas são consideradas pelo imaginário comum como bairros agitados, onde a delinquência e o narcotráfico são presentes, embora nas Cités o narcotráfico não tenha a mesma dimensão como no Rio de Janeiro. Essa ideia reflete no preconceito e na violência moral por parte da sociedade, generalizando tais problemas aos moradores dessas áreas. Além disso, as Favelas como as Cités, podem ser caracterizadas por uma cultura de ódio policial, com grave violência nas suas ações.

Nos dois casos poucos chegam até a universidade, e entre os que estudam uma minoria busca uma carreira profissional ambiciosa, a preocupação principal são as necessidades das famílias e uma situação profissional estável, com um compromisso maior com os estudos por parte das meninas.

Nesses dois contextos com a necessidade de um emprego e a baixa condições de estudo, o empreendedorismo é cada vez mais aderido pelos jovens. Porém nas Cités existem um certo apoio por parte do Estado, com ajudas financeiras e assessorias para os jovens que querem empreender. Criar seu próprio negócio como um “bico” na Favela é muito comum, sendo um meio através do qual as pessoas têm para sobreviver. Mototáxi, Uber, venda de roupa, reciclagem, entrega de comida, mas também no setor da música, Rap nas Cités e Funk nas Favelas. Segundo Karim Bouhassoun “A criação das empresas é duas vezes mais presente nos bairros populares que nos outros bairros”.

As principais percepções dessa pesquisa são: Dois mundos bem separados geograficamente que compartilham uma estrutura e um modo de vida parecidos, embora com algumas distinções. O que se pode destacar facilmente é o intervencionismo maior por parte do governo francês do que o brasileiro, no apoio ao desenvolvimento desses bairros. Porém em ambos os casos a precariedade e a falta de incentivo aos jovens quanto ao futuro são problemáticas ainda não resolvidas.

 

Por Lolita Diez. Lolita é estudante de relações internacionais e ações no estrangeiro na França, estagiária da Asplande. Contato pelo email diezlolitamarie@gmail.com