Retrato da Lorena Coimbra

Nome: Lorena Coimbra

Região: Guadalupe, Zona Norte – RJ

Negócio:  Foodtech  e Hort-e

Área do negócio: Tecnologia e inovação

Contato: foodtechconsultoria@gmail.com

 

Liderados por mulheres – na maioria das vezes – o ramo do afroempreendedorismo está diretamente ligado a comunicação, a indústria da beleza a aos cuidados em geral, foi o que revelou a pesquisa “Afroempreendedorismo Brasil”, desenvolvida pela RD Station, Inventivos e o Movimento Black Money. Segundo a organização, pequenos e médios empresários pretos movimentam cerca de R$ 1,73 trilhão por ano no Brasil. Contudo, ainda existe uma diferença de 40% na renda em relação a população branca.

Para muitas militantes do movimento negro, o termo afroempreendedorismo acaba sendo romantizado. Quando a necessidade é a realidade de muitas empreendedoras que optam por esse caminho. Ciente das problemáticas que afetam mulheres negras e periféricas, Lorena Coimbra, engenheira de alimentos, revela sua opinião, “quando vejo pessoas negras, principalmente mulheres, temos muitos dados e pesquisas que mostram que a maioria empreende por que precisa. Além disso, também sempre lembra a criatividade, que não é pautada em estratégia e sim em se destacar no meio de tanta concorrência para poder aumentar as vendas. Então sempre quando ouço este termo me recordo o quanto é difícil o acesso a oportunidades para a  maioria dessas empreendedoras e como elas precisam se virar em meio a tanta escassez para que consigam vender o mínimo para sobreviver.”

A jornada empreendedora de Lorena Coimbra começou quando passou para o ensino médio. Logo, ingressou no curso técnico em Controle Ambiental, na Escola Federal de Química de Nilópolis, na Baixada Fluminense. Em seguida, prestou vestibular para ramos de engenharia voltados para a química, o que foi um grande salto para entrar na  UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), se formando em engenharia de alimentos. Assim como a maioria das universitárias recém-formadas, Lorena saiu da faculdade com ideias inovadoras para um futuro sustentável. Sempre enfrentando os desafios que aparecem, a empreendedora foi estagiária em grandes empresas do ramo alimentício e em uma empresa familiar que produz salgados integrais. Nesta última organização, surgiram suas primeiras inspirações de negócios empresariais. Em julho de 2016, fundou a Koky Alimentos. Era uma marca de brigadeiros funcionais à base de biomassa de banana verde e colágeno. Junto com a Koky, prestou serviços de consultoria de engenharia de alimentos para marcas que conheceu durante sua trajetória profissional.

Há 5 anos trabalhando autonomamente, a engenheira, no total, teve três empresas, passou por 2 acelerações de negócios e se tornou mestre em ciência e tecnologia de alimentos. Além da formação acadêmica, Lorena participou de podcasts, entrevistas, palestras e aulas sobre os assuntos que envolvem tecnologia e inovação sustentável, “eu na verdade sempre soube que tinha este perfil, mas na época da minha formação o profissional precisava ser um especialista e não um empreendedor ou multidisciplinar. Então eu tive muitos questionamentos internos sobre o caminho que estava tomando após a graduação, onde passei por grandes empresas da indústria de alimentos, até aceitar o que realmente me faria feliz. Eu não consegui tomar esta decisão sozinha, a decisão veio após um processo de coach de carreiras, que tudo fez sentido e o caminho mesmo sendo difícil se tornou mais prazeroso”, disse.

A moradora de Guadalupe, Zona Norte do Rio  de Janeiro, em 2019 fundou a Foodtech Consultoria. Uma consultoria focada em processos, qualidade e produtos de alimentos. Com quase três anos de existência, a Foodtech atendeu 45 empresas no Rio, São Paulo e Minas Gerais. Além da consultoria, o empreendimento oferece como serviço cursos de desenvolvimento de produtos, ministrados por professores parceiros, “a Foodtech tem como premissa democratizar a área de alimentos, então entregamos serviços e conteúdos com uma linguagem mais acessível e atendemos muito bem nosso cliente, entender primeiro qual a sua realidade só para depois propor soluções. Somos uma empresa que nossos colaboradores são negros – desde a CEO até o corpo docente”, explica.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2050 teremos que alimentar 10 bilhões de pessoas no mundo. Apenas 70% da população terão comida garantida nas suas mesas. Preocupada com a situação de insegurança alimentar que ocorre cada vez mais no Brasil, a empresária tem uma visão macro sobre a temática, “[isso] tem relação com a sobrevivência e colher da terra o necessário e devolver o que ele pode absorver. Então o uso de ervas e produtos naturais respeitam essas premissas. Além disso, os conhecimentos antigos sobre alimentos sempre buscam por uma alimentação funcional e equilibrada, a sinergia é enorme pelo tema e eles praticam desde sempre.”

Pensando no mundo cada vez mais sustentável, Coimbra decidiu criar a Hort-e. A Hort-e na versão Web App, é um site – igual a versão final da plataforma.  O empreendimento surgiu em 2020, no Sancathon Foodservice da Universidade de São Paulo, campus São Carlos, o projeto ficou em terceiro lugar na maratona. O objetivo da Hort-e é auxiliar pequenos produtores rurais como também pessoas jurídicas que trabalham no varejo e no serviço de alimentos para elevar seu potencial tecnológico e empreendedor, “a Hort-e é uma empresa moderna muito diversa, cada sócio é de um estado diferente e os demais são muito comprometidos com a sustentabilidade e a diversidade. Unimos diretamente o produtor rural ao estabelecimentos comerciais, além disso, como as compras são coletivas, diminuímos os custos logísticos. Espero que as pessoas saibam que a empresa existe e qual solução ela traz”, enfatiza.

Em outubro de 2021, em parceria com a Asplande, ela palestrou sobre segurança alimentar para as participantes da Rede Impacta Mulher. Muito inspirada, Lorena deixa um recado para quem sonha com um negócio próprio, “empreender é um caminho longo, é necessário ter muita calma e resiliência pois o tempo de um negócio é diferente e varia também com o mercado. Então estude seu público, faça a modelagem do seu negócio e estruture tudo o que precisar. Faça um protótipo e valide, é de suma importância para entender se o que planejou fará sentido. E aproveite o percurso pois pode ser muito prazeroso”.

Saiba mais das empresas, entre em contato nos perfis do LinkedIn da Hort-e e  Foodtch Consultoria.

 

Por Beatriz Carvalho, jornalista e voluntária da Asplande

Foto: Igor Gusmão