Empreendedorismo Colaborativo: Espalhando uma Corrente do Bem

Seguindo mais uma de nossas matérias sobre o tópico “Empreendedorismo colaborativo”, que vem sendo cada vez mais motivado no mundo dos negócios, especialmente no contexto de pandemia, dessa vez temos como exemplo uma ação coletiva entre três artesãs da Rede Asplande. Danielle Oliveira, Reinildes Agostini e Anna Beatriz Andrade são profissionais do mundo da costura, trabalhando com a confecção de artesanatos criativos e artísticos, e se juntaram para um empreendedorismo colaborativo onde compartilham os gastos e as logísticas de seus insumos.

Como vimos anteriormente, uma das vertentes que liga a colaboração empreendedora ao sucesso é a condição de as empresas trabalharem no mesmo nicho. Danny, Reinildes e Bia são todas artesãs, compartilhando um amor e conexão intensos com a arte. Danny é a artesã que compartilha seu empreendedorismo com Bia e Reinildes, respectivamente, não havendo um contato direto ainda entre Reinildes e Bia somente. Segundo elas, a ideia de trabalhar em equipe dessa forma, distribuindo e comprando coletivamente, veio devido ao cenário incerto da pandemia.

Como explicado por Danny, a dona do “Ateliê de Bonecas”, os materiais nem sempre são usados em sua totalidade e o modo de compra dos tecidos é realizado em longas metragens, o que pode levar tanto ao gasto do material em si, quanto na perda do dinheiro investido para a confecção de seus produtos. “É muito dispendioso comprar 1 metro de tecido se você precisa apenas de 50 cm.”, explica Reinildes, complementando Danny. Pensando de forma não só solidária, também sustentável, as três mulheres começaram as chamadas “compras coletivas” para suprirem e aproveitarem melhor seus materiais, dinheiros e artesanatos.

Desse modo, elas trocam seus materiais, utilizando o necessário de que precisam do total de estoque que preveem comprar, deixando as criações artesanais de cada uma mais fácil e proveitosa. “Eu e Danny fazemos a compra de projeto de bordado, nesse caso cada uma fica com a cópia do arquivo. A compra de materiais é feita de acordo com as nossas necessidades, cada uma compra o que precisa, às vezes dividimos o mesmo tecido, com o objetivo de baratear nosso frete e comprar apenas o que precisamos.”, expressa Reinildes, trabalhando em conjunto com Danny. “Eu trabalho com costura criativa e a Danny trabalha com bonecos. Então assim, a gente começou a passar trabalhos, a trocar materiais. Tudo que é de bonecos das minha clientes, quem faz é a Danny. E tudo que é de costura criativa dos clientes da Danny, é a Bia que faz.”, relata Bia sobre sua colaboração com Danny.

Para Reinildes, trabalhar em equipe lhe desperta novos aprendizados, estes que vão para além do mundo das finanças. “Nós não nos enxergamos concorrentes. Às vezes dividimos o mesmo projeto mas sem o ranço da competitividade. Dividimos nossas opiniões sobre material, finanças, problemas com clientes, substituição de insumo e muito mais.”, diz ela.

Hoje, dona do empreendimento “Mimo de Sophie”, Reinildes compartilha que seu trabalho artesanal é sua segunda fonte de renda, tendo o trabalho de servidora pública como sua primeira opção profissional. Vinda de uma família que já tinha agulha e linha traçadas nos dedos, ela seguiu os caminhos de sua avó e de sua mãe, ambas com história no mundo das bonecas e da costura, respectivamente, encontrando na arte dos tecidos um momento de paz e calmaria. “Sou formada em enfermagem há 22 anos e agora formada em administração, sou servidora pública que é minha fonte de renda, mas a grande paixão é trabalhar com encadernação e bordado.”

Já Danny, a dona do “Ateliê de Bonecas”, está há mais de dez anos no ramo do mercado artesanal e o amor e sentimento que a incentivaram a começar ainda permanecem intactos em seu interior. Ela conta que a história de sua marca começou com um sonho de sua filha em ter uma boneca bailarina. Em busca de realizar esse desejo, o sonho de confeccionar uma boneca foi se tornando o de Danny também. A procura pela boneca de pano de bailarina perfeita atiçou suas lembranças de infância, com momentos de costura em família, e só afirmaram ainda mais sua paixão por esse tipo de artesanato, que também é sinônimo de terapia para ela.

Aos poucos, ganhando seu espaço e nome entre clientes, durante preparações de eventos e aniversários, o “Ateliê de Bonecas” foi ocupando cada vez mais o tempo e a disposição de Danny, que preza pelo afeto e delicadeza em cada ponto que realiza em suas criações.

Sobre a Asplande, Danny conta que abrigou muitos aprendizados, especialmente por buscar o sentimento que tanto precisava na época: acolhimento. Segundo ela, após a separação de casamento, seu emocional ficou muito abalado e, inconscientemente, ela almejava por um ombro amigo. “Eu ‘tava precisando de um lugar que me amparasse e me colocasse no colo”, diz Danny. E graças ao seu contato com Reinildes, através de um clube de leitura da qual faziam parte e foi o meio em que se conheceram, a Asplande também passou a fazer parte de sua vida, conseguindo preencher um vazio que estava cavado em seu peito.

A partir desse momento, acumulando vivências dentro da Ong, ela também conheceu Bia, se identificando com a personalidade que ambas compartilham. Junto dela e de Reinildes, Danny procura trocar seus conhecimentos e profissionalismos com cada uma, procurando diálogos que criem bons frutos para todos os lados. É assim que a compra coletiva vem ajudando Danny a manter seus artesanatos. “A gente é colaborativa na nossa estrutura empresarial. A gente se auxilia, se ampara”.

Bia, por sua vez, é a dona do “Mama Pimenta”. Ela conta que sua marca surgiu em um momento de dificuldade profissional e pessoal de sua vida, significando um bom recomeço para sua jornada. Além de ter o significado materno evidente na palavra “Mama”, Bia conta que “Pimenta” se complementa ao primeiro nome ao simbolizar as personalidades diferentes de seus filhos, que temperam e intensificam sua vida, assim como o ingrediente.

Sobre o negócio colaborativo, ela mantém firme seu elo com Danny, “trocando figurinhas”, como ela mesma expressa. A relação de ambas se intensificou na pandemia, com uma oportunidade de trabalho em conjunto que apareceu para elas, e também através da Asplande, o meio pelo qual se conheceram. Por trabalhar com a costura criativa, Bia procura Danny quando necessita de criar bonecos para seus clientes e Danny retribui a ação ao também contatar Bia quando precisa de ajuda na costura criativa. “Com esse trabalho, eu e a Danny, nós entendemos que cada uma faz um segmento. Uma não invade o espaço da outra.”, diz ela.

Sua visão sobre o trabalho coletivo também ressoa de forma positiva, sendo um ganho de dois lados para Bia. Ela afirma que as vantagens são inúmeras e que a Ong sempre incentivou esse tipo de negócio, tendo uma grande influência no seu modo de empreender. “A desvantagem seria se você não souber aceitar críticas e não se encaixar. O resto é só vantagem! Porque eu acredito que quando você se une, ainda mais mulheres, quando você une ideais, trabalho, mão de obra, as coisas só tendem a crescer.”

Para Bia, Renildes e Danny, a palavra “competividade” nem mesmo toca seus pensamentos enquanto colaboram. De forma recíproca, o elo empresarial que criaram é de pura troca e respeito, já que todas possuem seu próprio público e sua própria marca empreendedora. “O empreendedorismo não caminha sozinho e isso é bom porque a gente cresce.”, relata Danny, complementando sua fala com o fato de achar importante a postura que cada empreendedor terá sobre a colaboração: “Eu acho ótimo a partir do momento que a pessoa tenha o comprometimento de saber a função disso, sabe? Onde a pessoa não queira tirar vantagem do coletivo”. E a chave para o sucesso nesse relacionamento verdadeiro tem base na sinceridade. “Discordar é natural, somos pessoas diferentes, mas acima de tudo o diálogo sincero para resolver qualquer empecilho que apareça.”, diz Reinildes.

Sobre a influência da Asplande na decisão que as três tiveram, elas mencionam que o propósito coletivo já é um valor muito dissipado e em constante construção dentro dos projetos e mentorias que a Ong oferece. “A gente tem essa essência de coletividade em todos os processos que a Asplande faz. É uma Ong que acolhe, que cria relacionamentos.”, expressa Danny. “A Asplande fortalece a ideia de que juntas somos mais fortes, de que você pode crescer junto com outras pessoas, que o outro não está ali para tirar o seu cliente. Há o incentivo de ser competitiva no mercado e não entre nós, no sentido de que partilhar informações e experiências aumenta nossas chances. Saber que algo que você fez, informou ou proporcionou a alguém fez uma pequena diferença naquela vida é gratificante e receber esse auxílio do outro, saber que você tem pessoas com quem contar, faz a diferença na sua vida também.”, complementa Reinildes.

Compromisso e compreensão são, portanto, as palavras que mais se destacam na empresa colaborativa que Bia e Reinildes compartilham com Danny. Todas as três compreendem suas responsabilidades e espaços de empreendedora, encarando a coletividade e a solidariedade de empreendimento de forma leve e frutífera. É um cenário harmonioso, contendo a paciência e a comunicação em cada ponta da corda que elas seguram, uma verdadeira corrente do bem, que inspira e pratica a colaboração, assim como promete as premissas de um negócio colaborativo.

Escrito por Moara Guimarães Flausino, estudante de Letras na Unip.

 

Contato das empreendedoras:

Anna Beatriz Andrade, do “Mama Pimenta”

Instagram: @mamapimenta

Telefone: (21) 976128474

Danny Oliveira, do “Ateliê de Bonecas”

Instagram: @atelierdeboneca

Telefone: (21) 964651936

Reinildes Agostini, do “Mimo de Sophie”

Loja: www.shopee.com.br/mimo_de_sophie

Telefone: (21) 983267478

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