Retrato da Maria Elizabeth

Nome: Maria Elizabeth

Negócio: Denguinhos de Vó

Área do negócio: Gastronomia

Município: Duque de Caxias

Contato: (21) 96786 – 6022

Fé e perseverança foram as bagagens que mais supriram o espírito e a vida de Maria Elizabeth até agora. Hoje, dona do seu próprio empreendimento intitulado “Denguinhos de vó”, ela sonha em expandir sua marca para o ramo social, ainda carregando dentro de si todos os pedacinhos e homenagens que a inspirou para seu crescimento como empreendedora. Com um olhar humano e leve, ela procura plantar sementes boas em cada pessoa que cruza seu caminho, sempre com a fé de que irão florir lindos buquês dentro de cada um – e de fato, parecem florescer. “‘Denguinhos de Vó’ é uma continuação de amor, carinho, respeito… tudo que um alimento precisa ter. Gratidão por estar apenas engatinhando com o “Denguinhos”, ainda temos muito a aprender e crescer!”, diz ela.

A história de Beth com a culinária, o ramo fundador de seu empreendimento, começa desde criança. Ela conta que sempre gostou de estar próxima de sua avó na cozinha, ajudando-a ativamente no preparo de comidas maravilhosas ou até mesmo apenas brincando com alguns grãos que serviam para alimentar sua imaginação de criança. Ali, a troca e a presença de neta e avó foram fundamentais para a inspiração da vida de Beth, que desenha e colore seu coração com as lembranças daquela época, ainda muito vivas e felizes em seu interior. “Ela quem me inspirou. Talvez sem ela saber e nem eu mesma. Porque ela sempre foi uma cozinheira maravilhosa.”, relata Beth sobre sua avó.

Entretanto, devido às ondas do destino em sua vida, ela não seguiu com a carreira sonhada logo de início, ocupando seu tempo ao ajudar na loja de madeira de seu pai e nas tarefas de casa. Uma das consequências desse episódio na sua vida refletiu nos estudos. Infelizmente, Beth não conseguiu concluir o ramo acadêmico como queria e hoje um dos seus maiores sonhos e objetivos também está na sua graduação como cozinheira gastronômica. E enquanto a sua faculdade ainda não se concretiza, os estudos e aprendizados que Beth acumula com muita sede tem sido acumulados através da Asplande.

Sobre sua experiência com a Ong, ela relata que entrou para a equipe antes mesmo de ter o “Denguinhos de vó”. O convite veio através de um membro da Asplande, o Paulo Borges, que se interessou pela participação de Beth nos projetos da Asplande, motivando-a a entrar para a equipe. E ela aceitou sem hesitar: “Eu falei ‘com certeza!’”. A partir daí, sua caminhada junto com a Ong começou muito bem e hoje ela faz parte dos projetos “Economia Solidária” e “Feira da Agricultura Familiar”.

Um momento marcante para Beth no início de seu trabalho na Asplande ocorreu no evento “Mulheres do Mundo”, que traz artesãs e cozinheiras do mundo todo em um só espaço para exporem seus trabalhos e terem uma troca sincera de empreendedora para empreendedora. Lá, Beth disse que se sentiu um pouco perdida, pois percebeu que o mundo comercial era diferente de seus pensamentos. Ela conta que “foi com a cara e coragem” para o evento, mas trouxe de lá uma vontade enorme de aprender e ofertar seus produtos de modo eficiente para seu público. “Para cada evento existe um tipo de público diferente. Você tem que saber se o público que você tem é o público do seu trabalho.”

Ainda no evento, ela conheceu a jornalista Renata que cobriu os acontecimentos do “Mulheres do Mundo” e abriu a mente de Beth para que tentasse ousar na cozinha, tentar sabores diferentes e investir na qualidade de pães e bolos que já eram deliciosos na receita tradicional. Sempre de ouvidos atentos e de coração aberto, Beth agarrou esse conselho e investiu em sua criatividade e talento. “É muito bom você ter esse timing de escutar as outras pessoas.” Segundo Beth, escutar seus clientes e estar atenta às demandas foram dicas de ouro que abriram seus olhos para que novas receitas surgissem de suas mãos. “É o escutar, eu sempre vou repetir isso. Sempre tem aquele cliente que tem a simplicidade em te passar o conhecimento. Ele não quer fazer, mas quer que alguém faça para ele.”

E foi assim que, aos poucos, fazendo cursos online gratuitos e abrindo seus horizontes sobre tipos de farinha e de fermentação, Beth foi conquistando seu espaço como empreendedora e cozinheira, até chegar na panificação artesanal. Com a ajuda de uma amiga da Asplande, que iluminou seu pensamento quanto ao nome de sua marca, não demorou muito tempo depois para que “Denguinhos de vó” tomasse vida. Para ela, esse nome é uma homenagem especial a todas as figuras de avó, principalmente à sua avó paterna, com quem vibrou sua alma de criança, e também a si mesma, já que tal nomenclatura passou a fazer parte de sua vida também. Hoje, com uma variedade saudável de pães e bolos, a panificadora artesanal de Beth vem conquistando cada vez mais clientes, que sentem não só o sabor delicioso dos produtos, mas também o carinho e afeto que são carregados em cada embalagem. Por sempre ter amado o universo culinário, Beth afirma que seu maior segredo para o sucesso do sabor de seus alimentos é simples: o amor. “O principal tempero de tudo o que eu faço é o amor. Eu ‘tô ali 100%, não consigo ser metade.”

No entanto, Beth ainda enfrenta alguns desafios em seu empreendimento e um deles é sua assimilação com o modo atual de empreender. Por ser tradicional, ela compartilha que não consegue se adaptar muito bem aos padrões que são passados como corretos para os empreendedores, então ela preza muito pela honestidade e pela sinceridade em seus preparos e projetos. “Sei que tenho que praticar, mas ainda tenho um pouco de bloqueio porque eu ainda sou do tempo antigo, de indicação. Ainda não caiu a ficha para mim fazer dessa maneira. Eu não preciso seguir o que esse mundão quer que eu siga. Eu preciso seguir a Deus, ser honesta comigo mesma.”, menciona Beth ao falar sobre as redes sociais e a importância de manter seus meios de contatos atualizados e voltados para os clientes.

Além de seu trabalho no “Denguinhos de vó”, Beth também exerce uma função social linda e inspiradora na praça perto de sua casa, distribuindo marmitas a quem precisa de um alimento. A emoção em sua fala enquanto explica sobre essa ação é sempre evidente e Beth deixa claro que ama compartilhar, especialmente porque a solidariedade é um valor que já permanece com ela dia e noite. “Eu não vejo problema em ajudar. Deus me abre espaço para que eu venda muito mais. E temos que pensar no próximo. Cadê a solidariedade com o próximo?”, relata Beth ao falar sobre suas ações na praça, seja oferecendo um pouco de seu tempo, um pouco de sua comida ou um pouco de seus conhecimentos culinários.

Sobre o período pandêmico, Beth conta que ficou um tempo sem trabalhar e começou a oferecer seus serviços no condomínio de sua casa, fazendo ceias e eventos de final de ano para clientes por perto. A persistência de Beth chega a transbordar seu corpo, virando sua força motriz para seus momentos de dificuldade. “Teve uma queda grande, sim, lógico, mas fui continuando o meu trabalho. Teve sim dificuldade, mas não teve nada que me paralisasse. O não pra mim é muito forte e eu não aceito. Eu acho que a gente pode tudo.” Além da crise da pandemia, ela também vivenciou obstáculos com sua saúde. Beth conta que sofre de doença renal crônica e apesar dos sofrimentos físicos, ter ficado longe da família e amigos durante sua internação foi ainda mais devastador para ela. Hoje, Beth continua seu tratamento e está firme em sua fé. “Eu falo que sou um milagre de Deus. Não sei dizer se sou teimosa ou extremamente persistente, mas isso não me abala mais. No tudo, é um grande aprendizado e eu não posso desistir.”

Por último, Beth, com seus sonhos tendo limites apenas quando chegarem ao céu, ela visa atualmente criar o projeto “cozinha solidária”, um ramo social de empreendimento que vem crescendo cada vez mais dentro dela. Segundo Beth, essa vontade veio ao perceber que muitas mulheres fazem de suas casas seu próprio local de negócio, tornando dificultoso a separação das funções de uma cozinha para o trabalho e outra para casa. Além disso, também tem planos sociais para o “Denguinhos de vó” e, futuramente, planos para migrar para o Youtube, divulgando vídeos de workshop. Mas antes de ter a vida completa de redes sociais, ela quer se preparar emocionalmente para o ritmo acelerado da Internet e preza pelos seus projetos sociais primeiro. “Tudo na hora e momento certo. Tenho meu empreendimento todo em papel. Mas ele não será nada se não tiver junto esse social. Entendo que agora é hora de se qualificar e entender esse lado social para poder colocar tudo junto.”

E é assim que Beth vem construindo seu legado como empreendedora, mulher e vó, uma persona em sua vida que lhe traz tantas felicidades e sentimentos. É sempre com carisma, fé e atenção aos detalhes que ela busca a melhor forma de atender seus clientes e compartilhar com eles mais do que seus alimentos, doando um pouco de sua vida também. “Gostaria muito de agradecer a Asplande, Paulinho, Dayse, Gabriela Jordana e Gastromotiva pela oportunidade que nos deram com tantos conteúdos e pela solidariedade no momento que me encontrei mais fragilizada. Tive apoio diariamente. Gratidão sempre. Lógico teria uma lista imensa com nomes. Mas esses foram meu porto seguro. Agradecer a minha família sempre, amigos. E a Deus esse que me coloca de pé cada dia.”

Para alguns, se vincular tão emocionalmente assim com o trabalho pode ser um problema, mas para Maria Elizabeth, nada faria sentido se seu coração não estivesse alinhado com seus propósitos. Só assim ela sabe que está no caminho certo. Só assim ela sabe que seu órgão vital está pulsando pelo motivo certo. “Ser empreendedor é nunca desistir, é ter persistência sempre. Poderia desistir inúmeras vezes, mas gosto de ver o outro lado da história. Acho que o meu segredo é ser transparente, ser coração, e não ser macaquinho, de seguir o que te apresentam. Siga primeiramente seu coração (Deus) e faça diferente. Esse diferente com amor será o segredo da sua vitória. O meu ‘Denguinhos de Vó’, tem um significado de gratidão. Comecei a empreender depois de ter meus filhos criados e me conhecer como mulher independente e dona de mim. Acho que foi no tempo e na hora certa.”

 

Por Moara Flausino, estudante de Letras da Unip, e voluntária da Asplande