As Violências

A violência é um sério problema de Saúde Pública que não deve ser tolerado pela sociedade. Ela atinge muitos indivíduos e deve ser investigada por profissionais de diferentes campos de conhecimento para se ter uma melhor compreensão a respeito desse fenômeno.

As violências se apresentam como:

-Estrutural se refere as formas de manutenção das desigualdades entre ricos e pobres, homens e mulheres, pessoas de diferentes etnias e raças e alimentam as formas de submissão e exploração;

-De gênero é a forma de dominação e opressão que ocorrem entre os homens e mulheres e é construída estruturalmente nas sociedades e reproduzida no cotidiano das relações;

-Doméstica pode ocorrer no âmbito do lar e ser cometida por aqueles que possuem vínculos familiares com as suas vítimas. Recebe a denominação de violência intrafamiliar e atinge as pessoas das mais diferentes idades, classes e raças.

As violências se manifestam das seguintes maneiras:

-Física se apresenta na forma de espancamentos de vários tipos, estupros, homicídios, acidentes que ferem no trânsito, entre outros;

-Verbal consiste na violência que é percebida na forma de insultos, gritos e xingamentos;

-Psicológica caracterizada como a desqualificação das potencialidades de uma pessoa, desejos, emoções e cobrança excessiva de resultados.

Analisando essas classificações de violência, é possível inferir que muitas vezes a violência intrafamiliar não é pensada como uma forma grave de violação para quem a comete, sendo justificada pelos abusadore(a)s como descontrole emocional, pela provocação da vítima ao não cumprir o que é estabelecido e como forma de educar crianças e adolescentes. Infelizmente, esse tipo de violência é muito comum e atinge um ou mais membros da mesma família. As mulheres, em geral, são as mais vulneráveis e a denúncia muitas das vezes não é feita, com a desculpa de que: ”Em briga de homem e mulher, não se mete a colher!”

A violência que atinge crianças e adolescentes ocasiona danos muitas das vezes irreparáveis no desenvolvimento desses indivíduos, uma vez que esses são mais vulneráveis física e emocionalmente e também por estarem em um período de desenvolvimento psíquico, físico e social. Esse tipo de violência é uma forma de abuso extremamente cruel pois crianças e adolescentes estão sob o domínio de pais e/ou cuidadores em relações de poder e dominação, e esses últimos deveriam ter como função garantir a segurança e cuidado desses indivíduos.

Focalizaremos em especial na violência contra a mulher, a de gênero. Há na sociedade muitas “regras sociais” tradicionais voltadas a honra feminina, que embora na atualidade já tenham sido relativizadas em decorrência das transformações no campo da sexualidade nas últimas décadas, ainda se apresentam como justificativa para diversas formas de violência de gênero.

Há ainda uma desvalorização daquelas mulheres que são taxadas como “oferecidas”, fato que corrobora para que as mesmas sejam tratadas como verdadeiros objetos de dominação masculina e que sofram os mais diversos tipos de abusos, tais como: controle por companheiros e familiares, violência verbal, psicológica, a física e até mesmo abusos sexuais.

Sendo uma problemática extremamente grave, a violência requer um enfrentamento da sociedade. As pessoas não devem se calar diante das diversas formas de violência. As vítimas devem procurar ajuda quando não se sentirem capazes de romper com o ciclo de violência, e as pessoas no geral precisam denunciar quando se depararem com qualquer forma de violência.

As mulheres são donas de seus corpos, de suas vidas e livres para agir como quiserem, porém, ainda vivemos em sociedades marcadas pela dominação masculina, sexista e onde as mulheres que possuem uma conduta diferente da estabelecida podem passar a carregar um estigma e serem rotuladas como “as fáceis”. Essa categorização é construída e baseada pela roupa mais ousada que usam, pela expressão dos corpos, pela maneira como se comportam nos bailes, na rua, entre outros lugares.

Uma das questões que limita o enfrentamento dessas formas de abusos é a que se refere ao que realmente é percebido como abuso por quem sofre, quem o comete e pelos demais membros da sociedade. Muitos alegam que as próprias vítimas são culpadas da violência sugerindo que a provocação provém das mulheres e que as mesmas não cumprem regras estabelecidas pelos companheiros. Tais situações podem ser uma justificativa para que violências sejam cometidas, muitas vezes dentro da própria família, entre casais, entre namorados, ficantes, e outros, e que passam a não serem percebidas como violações. E como tal não são reprimidas com ações eficazes.

Essa questão é essencial para refletirmos e para modificarmos a sociedade. Enquanto um ideário produzido e reproduzido socialmente, permitir que algumas mulheres sejam taxadas como “fáceis” e não as reconhecer como donas de suas próprias vidas, os abusos às mulheres serão justificados por essa concepção retrógrada e imoral de que as mulheres são objetos de prazer e de dominação.

Por Mirian Teresa de Sá Leitão Martins, Mestre em Ciências Médicas e pesquisadora da área de Gênero e Saúde.

Crédito Foto: psychopenguin on VisualHunt.com / CC BY-NC-SA