Minha História com Laudelina de Almeida Ferreira

Nome: Laudelina de Almeida Ferreira
Área de negócio: Coordenadora de rede de artesãos e empreendedora de gastronomia
Município: Cidade de Deus — RJ
Contato: (21) 97221-3074

 

Laudelina de Almeida Ferreira nasceu na cidade de Maricá (RJ), e foi viver na capital do estado por conta do trabalho do pai, que era porteiro. De início, moraram em uma comunidade que foi removida, em 1967. Depois disso, se mudaram para a Cidade de Deus, onde Laudelina reside até hoje. Lá desde muito nova presenciou de perto a violência, com o assassinato de um irmão logo que chegaram a comunidade. Como foi para a Cidade de Deus já na adolescência, suas lembranças da infância são da roça de Maricá, subindo em árvores, comendo fruta do pé, participando das rodas de conversa dos adultos.

Em sua trajetória, Laudelina estudou em várias escolas até conquistar sua formação. Em Maricá, no Leblon e, enfrentou dificuldades após a remoção da comunidade em que morava, já que o caminho ficou mais longo e difícil. “Algumas vezes era perto de casa, com ótimos professores, que ainda trago na memória, primeira escola, primeira professora; mas depois da remoção se complicou um pouco. A escola que eu terminei o ginasial ficava em Ipanema e, para não perder o ano, minha mãe que na época trabalhava em uma casa de família, combinou que eu ficaria lá, ajudando em pequenos serviços, só para conseguir concluir o ginasial.”

Concluiu o ensino médio em uma escola noturna e passou no concurso para merendeira. Mas o brilho de quem pode muito mais nunca se apagou. Quem trabalhava com ela percebia o seu talento e a incentivava a continuar os estudos, fazendo cursinho pré-vestibular.
Passou não em uma, mas em duas universidades: UERJ e PUC-Rio, para o curso de Pedagogia. Escolheu a PUC, pela proximidade. “Quando eu cheguei na faculdade, eu já estava com 50 anos, o que foi um desafio. Era uma faculdade da elite, então já entrei quebrando os paradigmas, as barreiras, matando um leão a cada dia, sabendo o que é a desigualdade e o preconceito.”

Foi na faculdade que Laudelina começou a se amar mais. Antes era mãe, avó, esposa, e não gostava nem de seu nome. Hoje é mulher, e assim se sente. Terminou a graduação em 2008 e continuou com ao estudos na área de Educação Infantil. Através do pré-vestibular foi incentivada a voltar à comunidade e repassar o que aprendeu. Foi isso o que fez, começou as atividades comunitárias e não parou até hoje.
Trabalhou com a educação de jovens e adultos, ensino para pré-técnico, atuação em ONGs e, em 2010, conheceu a economia solidária e ingressou na rede de artesãos. “A Cidade de Deus não tinha esse trabalho de economia solidária, eram apenas vários profissionais que trabalhavam, mas não sabiam que eram artesãos, nem que praticavam a economia solidaria, e agora é isso que a gente vem fazendo.”

Hoje Laudelina coordena um grupo selecionado pelo projeto Rio Ecosol, onde recebeu maquinário para um projeto de gastronomia, fazendo produtos que são depois vendidos em uma lanchonete e também na feira da comunidade, sempre ligada a economia solidária.

Se questionada sobre qual é a sua maior dificuldade, ela fala do capital como um obstáculo, mas também a parte burocrática, por não serem, oficialmente, uma ONG, mas sim um coletivo. Já nas dificuldades da vida pessoal, relata a timidez e o choro, problemas que, aliás, considera terem melhorado após os estudos. “Quando eu fazia um trabalho, estava representando a minha comunidade, as pessoas olhavam e não viam a Laudelina, mas sim a Cidade de Deus, enxergavam uma mulher de 50 anos que carregava muito mais do que si.”

O que considera ser como a sua maior conquista está na ponta da língua: é poder ser Laudelina, não só mãe, nem avó, nem esposa. “Hoje estou aqui na Asplande querendo ser essa mulher atuante, não aquela que está esperando. Quero participar, estou viva, estou aqui, é possível e vamos em frente.”

Na Asplande, mais ativa desde o ano passado, encontra o apoio e o conhecimento, para o maquinário que conquistou. “A Asplande é a interação, a esperança, estou aqui nesse pique, vamos colocar essa padaria em funcionamento! Estou em vários lugares participando e vendo, porque alguma hora vai dar certo. Se eu ficar parada na minha comunidade eu sei que não vai levar a lugar nenhum. Pouca coisa vai mudar”.

 

Por Isabela Lessak, voluntária da Asplande. Isabela é formada em Comunicação Social – Jornalismo e veio para a Asplande pelo amor as histórias e as pessoas. Hoje é freelancer e busca recolocação no mercado. Contato pela Linkedin: https://www.linkedin.com/in/isabelalessak