Economia Solidária

Tive a oportunidade de passar alguns dias na companhia de Denise Thomé da Silva, diretora e criadora da ONG “Vale Verdejante”, em Andrade Costa, distrito do município de Vassouras/RJ. O Vale Verdejante é realmente um exemplo maravilhoso de economia solidária (que é o seu principal compromisso), mas também é um ótimo exemplo pela forma como esta ONG funciona. Falando a respeito de Economia Solidária, o que exatamente esse termo significa? Uma vez que essas palavras veem sendo bastante utilizadas atualmente, vamos dar atenção a elas.

De acordo com o site Wikipédia, a Economia Solidária é o conjunto de atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo, poupança, e crédito – organizadas sob a forma de autogestão.

Assim forma-se um círculo econômico autossustentável que tem como compromisso o crescimento da riqueza. Com frequência, esse conceito também está relacionado à preservação ambiental pois, nesse esquema, a natureza se encaixa dentro do processo econômico produtivo de forma muito harmônica.

 

Vamos tomar como exemplo de uma árvore: a bananeira. Quem planta uma bananeira irá colher seus frutos, se alimentar e alimentar as pessoas do seu entorno. Se as bananas forem vendidas na cidade do produtor (não sendo comercializada para fora do município) vai apoiar a sua região, pois estará oferecendo bons produtos por um preço mais baixo, uma vez que não há intermediário. Com o dinheiro desta receita, o produtor pode investir (comprando máquinas, por exemplo) e gerar novos empregos para as pessoas da sua cidade, o que resultará em mais renda naquele local. Se conseguir ampliar o negócio mantendo um preço razoável e remunerando bem seus empregados, estará apoiando a sua terra no longo prazo pois, se a terra dele tiver um bom tratamento, as bananas ficarão mais gostosas e ele se tornará um fornecedor de ótimo produto. Poderá, inclusive, usar a propaganda da ecologia para vender, uma vez que quem respeita a terra tem uma imagem melhor junto aos clientes. Além disso, o solo do vizinho (que pode ser um produtor de aipim, por exemplo) vai se aproveitar desse benefício também, ficando o solo de toda aquela região com alta qualidade. De fato, a terra se compartilha.

 

Por outro lado, os funcionários terão renda para consumir. Sabendo que essa banana é a melhor do mercado (por causa de uma agricultura justa e terreno de qualidade), não vão buscar outras. Isso vale para todos os produtos locais: se for bom, os primeiros compradores serão as pessoas ao redor de você. Assim se inicia o círculo virtuoso: a renda vai para empresas que estão investindo os seus recursos no desenvolvimento econômico e social da região.

Em outras palavras, podemos dizer que praticar a economia solidária é orientar a atividade econômica da sua região para que ela faça crescer, de forma conjunta, a natureza e os cidadãos.

No Vale Verdejante encontramos essa ideia na própria essência do projeto. A Denise criou a sua ONG no terreno do sítio dela – trata-se de um melhor uso para o que ela já dispunha. Adicionalmente, essa atitude demonstra como ela é apaixonada por sua terra, Vassouras. A propriedade se tornou um marco de Andrade Costa, pois ela transformou seu lote de terra em um parque ecológico. O trabalho de reflorestamento já dura 10 anos, sempre envolvendo as crianças da escola para que elas tenham a oportunidade de aprender com a terra. Esse terreno se tornou, também, uma importante ferramenta de educação ambiental. A partir deste ano, o Vale inclusive terá canteiros que irão produzir alimentos, pois existe uma técnica florestal que consiste em plantar árvores frutíferas ao lado daquelas que demorarão para crescer e atingir o estágio adulto. Essa técnica é utilizada no processo de recuperação de terra degradada e acaba gerando alimentos também. Desta forma, a Denise está montando um projeto novo no Vale Verdejante.

 

O esquema acima mostra o caminho e os benefícios da Economia Solidária que nós experimentamos durante os dias que passamos em Vassouras com a Denise e todos os voluntários do projeto do Vale Verdejante. Sim, o Vale conta com os trabalhadores locais, mas também com estudantes da área da biologia, que encontram ali um lugar onde podem pesquisar, estudar as plantas e experimentar novas técnicas. Como a Denise falou, “o trabalho da terra envolve muito mais setores de atividades do que a gente imagina”.

O marido dela desenvolveu a website da ONG, que lhe convido a visitar: http://valeverdejante.org.br/

Há vários caminhos possíveis para apoiar a sua região. No exemplo do Vale Verdejante, finalmente, os empreendedores locais deixaram para trás o conceito de que uma ONG não tem o direito de vender, que deve ficar fora da cadeia dos negócios lucrativos. Agora, esta ideia inicial foi substituída por apoio e doações para a ONG, pois entenderam que neste projeto as pessoas estão lutando contra a fome e conseguindo espalhar refeições para quem não têm condições no Brasil.

 

Vincent Vignali é estudante da administração na França, estagiário da Asplande.