Salão Belíssima

Nome: Lourdes Maria da Conceição
Negócio: Salão Belíssima
Área do negócio: beleza
Município: Rio de Janeiro

Lourdes Maria da Conceição  ou simplesmente Lourdinha, de 52 anos e nascida na Paraíba, fala com muito ânimo até sobre as dificuldades pelas quais passou e que apesar de tudo, sempre viu como oportunidade de alcançar algo novo e melhor. Assim foi quando ao voltar para a Paraíba com 12 anos, segundo ela “para o meio do mato” e “à força”, depois de muitas ídas e vindas ao Rio de Janeiro com os pais que fugiam da seca no verão e voltavam para plantar quando a seca passava. Decidiu que voltaria para o Rio que viu pela primeira vez aos 08 anos, assim que ficasse mais velha. Passou por uma verdadeira saga e quando fez 16 anos voltou de fato com uma tia que havia ido até lá para buscar os filhos. Assim que chegou, foi trabalhar em uma casa de família para ter lugar onde ficar, com folgas quinzenais.

Voltou ao Rio de vez com 20 anos, no dia 12 de outubro de 1986 e foi assistir ao Holiday On Ice, queria ver um mundo mágico, de gelo. Agora, separada do primeiro casamento que viu como uma porta para a liberdade, e que se tornou na verdade uma segunda prisão, isto porque ao ser trazida de volta a Paraíba, seus pais a puseram para tomar conta do avô que havia ficado cego e de seus negócios, já que era falante e simpática e lidava bem com o público, ela seria a pessoa certa para a tarefa.

Tempos depois, acabou gostando de um rapaz que morava em frente ao comércio do avô. E se casaram, foi uma grande festa, mas após um ano e meio, com as proibições do marido ao seu trabalho com as crianças, para quem dava aulas de reforço escolar, foi hora de encerrar o casamento e vir definitivamente para o Rio, agora com um menino, seu filho de pouco mais de uma ano, que ficava com uma parenta até o meio dia dos sábados que tinha de folga, e quando apanhava seu filho, conta sorrindo, peregrinava pela casa dos tios e tias para ter onde ficar até voltar na segunda para o trabalho onde dormia a semana toda, e deixar o menino com a pessoa que cuidava dele.

Lourdinha se diz engajada e de espírito livre, nada prende, e quando sente que isso começa a acontecer, dá logo um jeito de se livrar. Já no rio, refez sua vida e em seu segundo relacionamento, construiu uma casa e tocou a vida. O segundo relacionamento acabou, deu a volta por cima e começou a costurar depois de passar por cursos de modelagem e corte e costura, pois já desde pequena gostava de fazer suas roupas. Virou referência de costura, comprou 05 máquinas usadas e começou a dar trabalho para uma outra mulher.

Não demorou para o seu companheiro e atual marido, já vivendo juntos, começar a reclamar da mulherada procurando por ela e daí resolveu mudar o rumo e inscreveu-se para uma vaga de agente de educação sanitária do programa Favela-bairro, concorrendo com 157 mulheres, com níveis de escolaridade bem maior do que os dela e ganhou uma vaga pela redação que falava sobre priorizar o ser humano, em tudo. Era o ano de 1996.

Em 1999, ela deixa de atuar no favela bairro e vai para a área da saúde, como agente comunitária de saúde, onde atua até 2012, quando sai para trabalhar integralmente em seu salão, o Belíssima. O Belíssima nasce em 2005, da vontade de apoiar sua irmã, que atuava como manicure e andava com auto estima muito baixa. Além de ter a vontade de criar um espaço onde pudesse aliar a saúde a beleza.  Logo tratou de se capacitar, fazendo cursos de manicure, cabeleireiro e recebendo sempre as melhores notas. Queria também capacitar as meninas que via subindo e descendo com suas caixas de sapato cheias de esmalte e um alicate para todo mundo, colocando em risco a saúde das clientes e delas mesmas.

Em 2013 entra no curso de gestão do projeto Mulheres em Rede, onde diz que deixou de ser amadora e passou a ser profissional.  Através da Rede de Mulheres Empreendedoras da Asplande, conheceu a Loreal Matrix e passou a ser uma micro distribuidora em várias favelas do Rio de Janeiro.

Com o módulo de novos negócios e serviços, abriu seu segundo salão e diz que estar em rede é estar ligada, é se sentir apoiada, segura e amparada, e estar sempre fazendo tudo com responsabilidade e compromisso.
Seu desafio é continuar, mas logo fala das perspectivas de futuro; formar e empoderar um exército de mulheres socialmente responsáveis. Com certeza, ela chega lá.

 

Mônica Santos Francisco é Cientista Social, Colunista do Jornal do Brasil, Consultora na ONG Asplande e Membro da Rede de Instituições do Borel.