Feminismo é a palavra do ano de 2017

fNo final de 2017, o dicionário da editora norte americana Merriam-Webster’s apontou a palavra “feminismo” como a palavra do ano. Isso aconteceu porque essa foi a palavra mais usada nas pesquisas feitas na internet durante todo o ano. De fato, nos Estados Unidos e também aqui no Brasil, feminismo foi uma palavra que ganhou muito espaço, que foi dita pesquisada e gritada nas ruas e nas redes sociais por milhares de mulheres. Feminismo esteve nas matérias de jornais, nas novelas, nas escolas e documentários por todo o país. Mas, pensando bem…. Se feminismo está sendo uma palavra muito pesquisada na internet, deve ser porque, além de ter ganhado destaque, as pessoas ainda não sabem exatamente do que se trata, não sabem o que de verdade é o feminismo. E se não sabem querem saber. Então, o que é o feminismo?

 

Para começar, é preciso compreender que feminismo não é o contrário de machismo. Muitas pessoas acham que feminismo e machismo são dois lados de uma mesma moeda, mas isso não é verdade. Machismo é toda atitude ou comportamento que implique na discriminação ou desqualificação de mulheres, somente porque são mulheres. Toda vez que uma mulher é desrespeitada, ofendida, humilhada, ridicularizada, agredida, morta apenas porque é uma mulher, temos aí a expressão do machismo. Portanto, o machismo é a supervalorização de tudo que diga respeito ao universo dos homens, ao mesmo tempo em que tudo aquilo que se relaciona ao universo feminino é desvalorizado ao extremo, ao ponto de provocar reações que, além de preconceituosas, podem chegar ao extremo da violência, em suas mais diferentes formas. Machismo tem a ver com opressão das mulheres pelos homens, porque o que dá vida ao machismo é a ideia de que os homens são superiores às mulheres.

 

Já o feminismo não prega a superioridade de ninguém, nem dos homens e nem das mulheres. Enquanto o machismo se baseia na superioridade masculina, o que é um grande erro, o feminismo tem por base o conceito de que mulheres e homens devem ter os mesmo direitos e deveres, ninguém é superior a ninguém porque nasceu com corpo de mulher ou corpo de homem. No feminismo existe a compreensão de que homens e mulheres são diferentes sim, isso é verdade! Mas essas diferenças não são um motivo para que um se sobreponha ao outro. Ao contrário, no feminismo o que queremos é que essas diferenças sejam respeitadas, sejam compreendidas como uma oportunidade positiva, pois quanto mais nos respeitarmos em nossas diferenças, mais livres seremos. Para o feminismo, todas as mulheres  devem poder ser livres e felizes, trabalhar, estudar, viver, ser, estar no mundo de forma a não sofrer nenhum tipo de constrangimento porque somos mulheres. Machismo se constrói na opressão. Feminismo se constrói na igualdade de direitos.

 

Feita essa primeira consideração. É preciso agora saber que o feminismo, no singular, se é que um dia existiu, não existe mais. Porque o feminismo se multiplicou e através de décadas, atravessou fronteiras, conquistou as redes sociais, se tornou múltiplo, diverso, colorido  e mais potente do que nunca. No feminismo devem caber todas as formas de expressão das mulheres, toda a nossa diversidade enquanto mulheres. Sim, existe diferença e diversidade entre as mulheres. Existem mulheres brancas, negras, indígenas e asiáticas e o feminismo de cada uma dessas mulheres terá características e desafios próprios. Existem mulheres do campo, da floresta, das cidades e das águas. Meninas, mulheres jovens, adultas e idosas. Mulheres heterossexuais, lésbicas e bissexuais. Mulheres com filhos e filhas e mulheres que não foram ainda ou não querem ser mães. Mulheres com deficiência, mulheres refugiadas, mulheres analfabetas, mulheres trabalhadoras, mulheres prostitutas, mulheres sindicalistas, mulheres universitárias, mulheres sem terra, mulheres sem teto, mulheres da favela, mulheres transexuais, mulheres de todas as formas, culturas, jeitos e espaços. O feminismo é para todas nós e não pode deixar de considerar que todas nós somos diferentes, mas temos o direito de exigir para cada uma de nós o respeito e a alegria de poder viver.

 

Para isso existe o feminismo: para dizer que toda mulher merece e deve ser respeitada. Seja uma mulher igual a mim ou uma mulher diferente de mim. No feminismo, as mulheres desejam ampliar os seus próprios direitos, mas também os direitos de outras mulheres, diferentes de mim, até mesmo aquelas que não se dizem ou não se percebem como feministas.

 

Quando uma pessoa concorda que homens e mulheres que fazem o mesmo trabalho deveriam receber o mesmo salário, ela está pensando como uma feminista. Quando alguém acha que a violência contra as mulheres deveria acabar, porque mulheres precisam ser respeitadas, ela está pensando como uma feminista. Quando você acha que as tarefas domesticas poderiam ser melhor divididas com todas as pessoas que moram na casa e não ficarem concentradas nas mulheres, você está sendo feminista. Então, feminismo não é uma expressão única, que se aplica somente a um tipo de discriminação. Feminismo pode ser levado para a vida pessoal, mas também para a vida pública, em casa, no trabalho, na escola, onde quer que seja.

 

Para finalizar, é preciso dizer que as mulheres sempre estarão nas ruas e nas redes em busca de uma vida melhor para todas nós e para toda a sociedade. Quando homens e mulheres forem iguais em direitos e deveres e, ainda assim, puderem ser diferentes em suas formas de viver e se expressar, tendo essas diferenças respeitadas e valorizadas, seremos todos mais felizes. Para isso serve a palavra do ano, o feminismo: para que sejamos livres, felizes e diversas. Sem medo, sem desrespeito e sem opressão. Por mim, por nós e pelas outras!