Espelho, espelho meu, o que a natureza me deu?
Estamos vivendo, a pleno apatia, uma nova era. Vivendo às pressas, sobrevivendo diante do tempo, que decidiu voar. Internet e a Revolução da Informação: maravilhoso se sentir interligada e ter o mundo ao alcance dos dedos. Só que nos sentimos lentas, pequenas e cada vez mais desprovidas de… tempo. É o que querem que a gente sinta, é como querem que a gente viva, porque é assim que surgem gurus e profetas, ideologias e o que quer que seja dispostos a nos dizer o que pode nos servir ou não, e prometendo nos dar, de novo: tempo.
Sempre é tempo de beleza. O que não é fato é ela ser obrigatoriamente ligada ao novo, ao jovem, ao da hora. Quando comecei a trabalhar com matérias-primas naturais, procurando o máximo de primariedade possível nas substâncias, foi na tentativa de atender a algumas demandas pessoais. Fui testando minhas receitas, repassando minhas misturinhas às clientes e mulheres mais chegadas, sempre me questionando sobre como ter uma rotina de higiene, de beleza e de saúde adaptada à necessidade de cada mulher. Não seria lindo?!
Coloco-me na obrigação de levantar as questões mercadológicas, e pra mim é notável que estamos, aqui também, diante de um novo momento. Fórmulas inovadoras não são absolutas por muito tempo, até mesmo porque logo na semana seguinte já surge outro produto. Não existe mais a voz da verdade do profissional do cabelo, pois a cliente facilmente obtém informações de outras fontes e, principalmente, confronta com o que ela mesma já sabe, com o que ela mesma conhece de seu corpo e de seu cabelo, com as amigas com quem troca saberes nos grupos virtuais.
Mesmo com toda essa inovação, por que ainda muitas mulheres se encontram dentro de um cárcere, cegas para a beleza que há em cada átomo de seus corpos? A quem interessa todas as suas frustrações, os seus recalques e o quanto se sentem incapazes de lidar com as próprias fraquezas?
Com isso tudo, quero dizer que precisamos estar atentas, além dos componentes que podem ser lidos nos rótulos, ao que a indústria produz discursivamente. Ela quer que acreditemos, que é preciso nas nossas rotinas de banho, do sabão X. E assim a indústria vem mandando e desmandando nas nossas rotinas. Mas quem disse que precisamos administrar com frequência intervenções medicamentosas? Quem disse que precisa ser de forma que nos onere mais? Quem disse que para não ter caspa é preciso ser escravo de um dermo-cosmético?
O céu (ou seria o inferno?) é o limite quando fazemos uma pesquisa mais demorada no comércio extensivo de produtos de beleza – e cruzando estas informações com o que é sabido sobre a relação das mulheres com isso.
Existem, sem dúvida, muitas opções no mercado que são eficazes, no propósito de embelezamento ou tratamento de patologias, como caspa e couro cabeludo seboso ou inflamado ou oleosidade no rosto. É meio desesperador, porém, que nessa indústria haja um limbo entre um e outro propósito. Somos levadas a acreditar que tudo o que passa pela indústria é seguro, ou o que passa pela indústria estrangeira é. Simplesmente não sabemos os efeitos que muitas substâncias teriam ao longo de anos contínuos de exposição a elas.
A busca que venho empreendendo com a fabricação dos meus cosméticos vai ao encontro da eficiência, que nada mais é do que agregar economicidade e simplicidade à eficácia, estudando as propriedades das plantas, que não proporcionam efeito placebo, como querem nos fazer acreditar, tampouco dependem de fés ou crenças. Trata-se de pura alquimia, como funciona na culinária, ou na extração de princípios ativos, combinando texturas e aromas, celebrando toda a sorte de transformações.
E as transformações vêm, meninas, porque basicamente somos levadas a voltar as nossas observações para os próprios fios de cabelo, a própria pele, o melhor resultado possível dentro do que é desejado. A gente deixa de ser invisível pra gente mesma!
Por Carolcut. Carolcut é maquiadora e cabeleireira. Além de realizar atendimentos, promove cursos e oficinas nestas áreas. Para conhecer seu trabalho e entrar em contato com ela, acesse www.carolcut.com.br